Sob a liderança do senador Sergio Moro, o Senado brasileiro organizou uma sessão na Comissão de Segurança Pública para debater a situação das violações aos direitos humanos e a perseguição política na Venezuela com a participação de Maria Corina Machado. Deve-se notar que o presidente da sessão e representante do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, senador Jorge Kajuru, indicou que não leria um discurso de 80 páginas que representava a posição do governo federal contra essa audiência e em defesa do regime de Nicolás Maduro.
O senador Moro denunciou que a ditadura chavista proíbe Maria Corina de sair do país e que ela está impedida de comprar uma passagem de avião para suas viagens de campanha. Ele também destacou a coragem e a resiliência de Maria Corina para superar esses obstáculos e alcançar uma popularidade tão alta.
- Leia também: Lula e Maduro: vítimas de narrativas e preconceitos?
- Leia também: A política externa do Brasil se alinha com a China e a Rússia em direção a uma nova ordem mundial
Maria Corina Machado destacou a prioridade da relação entre o Brasil e a Venezuela com base na importância do gigante sul-americano na defesa da democracia e dos direitos humanos. Nesse sentido, ela convidou formalmente os senadores de todos os partidos a visitar a Venezuela e ver com seus próprios olhos a realidade do país. Maria Corina argumentou que o que está acontecendo na Venezuela não é produto de uma narrativa, mas das ações do regime chavista, que destruiu a economia e a qualidade de vida dos habitantes.
Ela também destacou a destruição de mais de 1.400.000 hectares na Amazônia venezuelana sob a proteção do chavismo, uma questão que tem sido uma bandeira do atual governo brasileiro, que tem mantido total silêncio diante dessa crise que também afeta os povos indígenas e o meio ambiente.
O senador Hamilton Morão destacou seu conhecimento sobre os processos de infiltração da esquerda nas Forças Armadas da Venezuela e que foi daí que surgiu Hugo Chávez. O senador Rogério Marinho expressou preocupação com os serviços públicos e se a população venezuelana é obrigada a professar lealdade ao Estado para ter acesso a esses serviços. Ele também se referiu à aliança entre grupos criminosos venezuelanos e brasileiros e à perseguição de jornalistas e da mídia. Maria Corina enfatizou que os venezuelanos não têm mais medo do regime ou de qualquer uma de suas ameaças, porque até mesmo aqueles que apoiavam o chavismo agora se juntaram a ela na campanha para vencer as primárias e conseguir uma mudança de realidade longe da polarização.
O senador Jorge Seif, que também é membro do Foro do Brasil, destacou a liderança de Maria Corina, dizendo que sua mensagem é um alerta sobre o futuro que seu país pode ter. Ele lembrou o número de presos políticos e vítimas de tortura do regime chavista, com base no relatório da ONU, bem como o fato de que quase 8 milhões de venezuelanos emigraram, tornando a diáspora venezuelana uma das maiores do mundo. “Você está vindo do futuro para nos alertar que o Brasil está ameaçado”.
Em resposta ao convite de Maria Corina para visitar a Venezuela e testemunhar as primárias em 22 de outubro, o senador Eduardo Girão indicou que seu colega Sergio Moro poderia liderar uma comissão para viajar ao país caribenho naquele dia, e que a participação do presidente do Senado também ajudaria nesse sentido. Esta seria a segunda vez que uma comissão do legislativo brasileiro participaria como observadora da realidade venezuelana sob a liderança de Maria Corina Machado: a primeira vez foi durante o governo de Dilma Rousseff. Naquela ocasião, os parlamentares foram atacados pelo chavismo, que os impediu de entrar na capital e eles tiveram que retornar ao Brasil.
A coordenadora nacional da Vente Venezuela solicitou ao Senado brasileiro que emitisse uma declaração multipartidária em defesa das primárias, como fez o Congresso dos Estados Unidos entre democratas e republicanos, e também solicitou que eles acompanhassem a consulta interna da oposição no Brasil, da qual participarão mais de 8.000 venezuelanos que se registraram para exercer seu direito de voto.
O senador Moro apoiou a mensagem de Maria Corina, enfatizando que não se trata de uma luta ideológica, mas de uma batalha entre tirania e liberdade, entre justiça e injustiça, entre democracia e autoritarismo, e que não pode haver meio termo. É por isso que ele continuará insistindo para que o Brasil desempenhe um papel de liderança como mediador na crise venezuelana, uma vez que o governo de Lula está próximo de Maduro, ao contrário da administração anterior, e ele acredita que isso pode significar uma oportunidade de realizar eleições livres como um mecanismo democrático para promover as mudanças de que o país precisa. Portanto, com a colaboração multipartidária, uma política externa pioneira em relação à Venezuela poderia ser estabelecida na América do Sul diante do fenômeno político venezuelano.
Ao final de sua participação em uma sessão que durou mais de duas horas, Machado informou que a situação na Venezuela é de suma importância para os brasileiros, pois enquanto o chavismo permanecer no poder de forma antidemocrática, as mudanças que o país precisa não ocorrerão. Como consequência, a migração continuará a crescer e as demandas sociais aumentarão no Brasil devido a essa crise.
Em sua declaração de despedida, Maria Corina Machado disse: “Quando eu me tornar presidente da Venezuela, seremos grandes aliados”, o que cria uma perspectiva diferente do restante da liderança da oposição venezuelana, que não considera o Brasil em sua política externa ou em suas abordagens geopolíticas para priorizar as relações internacionais no futuro próximo.