A Comissão Nacional de Primárias (CNP) reuniu-se com o TSE venezuelano (CNE) para lançar as bases de um acordo de cooperação “técnica” e assim levar a cabo o processo interno das primárias da oposição. Há algumas semanas, o pesquisador Meganálisis realizou um levantamento estatístico no qual mostra que se o CNE participasse da organização deste evento que nada tem a ver com o chavismo, a desconfiança na votação aumenta e, portanto, apenas uma pequena porcentagem de venezuelanos participaria, o que geraria uma fraca percepção de legitimidade diante de uma liderança oposicionista já diminuída.
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As primárias, além de escolher um candidato para participar em 2024 contra Maduro, tornaram-se o processo para legitimar uma nova liderança da oposição após a morte do governo do Guaidó. A favorita é a María Corina Machado com uma proposta liberal alternativa à dos 4 partidos tradicionais da oposição chamados de G4, que propõem continuar com a agenda política iniciada em 2013 e que só conseguiu dar maior estabilidade ao chavismo ao longo do tempo, razão pela qual os classifica como partidos colaboracionistas.
Nesse sentido, os partidos do G4 estão interessados em que a opção de Machado não seja vencedora, já que sua proposta conectou a maioria dos opositores dentro e fora do país. E como eles podem conseguir isso? Ao tornar mínima a participação no processo. Eles podem conseguir isso na medida em que o CNE, uma entidade chavista, participe do controle da eleição. Resumindo: quanto mais CNE, menos María Corina.
Diante desse contexto, a campanha de Machado enfatiza a participação da diáspora. Uma maioria significativa dos venezuelanos no exterior é contra o chavismo e também contra a oposição colaboracionista. Portanto, se votarem em massa, é muito provável que votem a favor da proposta de Machado. É por isso que o CNP e o CNE poderiam concordar em fazer o processo juntos: assim seria eleita uma oposição que não foca na saída do chavismo, mas permanece na agenda de diálogos e eleições sem condições.
Sendo essa a situação, a diáspora poderia ultrapassar este obstáculo e questionar o sistema através da organização cidadã, ou seja, realizar o processo de votação à margem num ato indiscutível de desobediência civil, reforçando a ideia de que o processo eleitoral tem de ser livre como o povo quere, e não controlado como querem os chavistas e seus aliados.
Se ocorresse esse acontecimento político que questiona o CNP e o CNE, estaríamos falando de uma derrota tão significativa quanto à derrota do Chávez em 2007: seria uma derrota histórica para a oposição que colabora com o regime, que tiraria sua influência no estabelecimento de uma agenda política para sair definitivamente do chavismo.
Outro cenário visível é o do boicote da eleição. Nesse caso, aconteceria o mesmo que em 2018: a abstenção seria a maior, mas a legitimidade vai para os poucos que participam. Aprender com esse fato político do passado recente seria muito significativo: é de forma ativa que o objetivo de legitimar uma nova oposição seria alcançado. Outra forma passiva de enfrentar as primárias é isolar-se do processo, através de uma campanha niilista de desqualificação contra tudo e todos, o que resultaria em deixar a oposição mais condescendente ao regime no protagonismo, novamente e até 2030.
Em suma, há apenas dois resultados possíveis: uma nova oposição é legitimada ou o colaboracionismo é legitimado novamente. O tempo está acabando e até outubro ainda não há certeza do que vai prevalecer. Tudo vai depender dos participantes, não dos ausentes.