O revés representado pela candidatura de Henrique Capriles, após ter entregado a vitória a Nicolás Maduro em 2013, deixou um gosto ruim na opinião pública venezuelana no contexto das eleições primárias. Vamos analisar alguns aspectos do perigo que isso pode significar para a Venezuela.
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A proposta de Capriles, admirador declarado de Luiz Inácio Lula da Silva, é entregar qualquer tipo de vitória da oposição que signifique a saída do chavismo. Seu argumento se baseia no fato de que se o chavismo for derrotado, pode ocorrer uma guerra civil. Em suma, sua campanha se baseia em nos adaptarmos ao chavismo indefinidamente com ele como principal líder da oposição.
Assim sendo, o Primero Justicia é a organização política que trabalharia para esse objetivo. Se assim não fosse, a suposta primária interna não seria um teatro e seria um espaço para os militantes se fazerem sentir com o voto. O que aconteceu é que as diretorias regionais, de maioria caprilista, disseram publicamente que concordavam que Capriles fosse candidato pela terceira vez. De qualquer forma, fica a dúvida: se Capriles está impedido pelo chavismo e o partido o lançar como seu candidato, isso seria uma jogada para ter algum poder relevante? Para que? Por qual cenário eles jogam diferente da saída do chavismo? E surge outra pergunta: é isso mesmo que a maioria dos militantes daquele partido quer?
Por outro lado, Capriles tem sido um daqueles políticos que se deixa levar de vez em quando. Talvez isso possa parecer insignificante se olharmos da superfície, mas o ponto aqui é que precisamente os episódios mais amargos ocorreram quando ele desencadeou contra a própria oposição cidadã, não contra o chavismo. Especialmente contra o exilio. Esse estilo arrogante e vulgar de Capriles já revela que ele tem uma espantosa incapacidade de articular os venezuelanos e, consequentemente, seria incapaz de alinhar a comunidade internacional que espera uma agenda para enfrentar o chavismo. Os militantes desse partido querem isso mesmo?
Capriles está cego em relação à sua figura e acredita que tem a mesma liderança de 2012-2013. Ele não acredita que traiu os venezuelanos, mas acredita que os venezuelanos deveriam ser eternamente gratos a ele porque evitou uma guerra civil. Capriles acredita que o chavismo é mais forte e por isso considera radical quem se propõe a defender uma vitória contra eles. Capriles propõe o mesmo caminho, para o vazio.
Em suma, o perigo que esta pessoa representa para a Venezuela, neste momento em que os cidadãos precisam renovar a liderança da oposição, está em obrigar a população a esquecer tudo o que se viveu desde que entregou as eleições; em que propõe uma longa e penosa agenda de adaptação ao chavismo; nisso é o reforço do cinismo na democracia, ou seja, que as pessoas pensam o que querem mas isso não vale nada; é dar força a quem despreza a diáspora de mais de 7 milhões de venezuelanos; e é garantir um fracasso maior que do Guaidó à comunidade internacional.
Henrique Capriles é o político mais comprometido com a continuidade da ditadura, não é disso que o chavismo gosta?