Recentemente, os partidos Un Nuevo Tiempo (UNT) e Primero Justicia (PJ) formalizaram uma aliança eleitoral para apoiar a candidatura de Henrique Capriles nas primárias de 22 de outubro. Capriles, duas vezes candidato à presidência, confirmou em 2013 que venceu a eleição contra Maduro, mas entregou a vitória ao ditador para evitar uma suposta guerra civil. O admirador declarado do presidente Lula da Silva não teve um bom desempenho nas pesquisas de opinião e, apesar de essas pesquisas projetarem que ele não venceria, o partido UNT decidiu apoiá-lo.
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O UNT não havia apresentado um candidato para participar das primárias. Embora tenham anunciado que participariam do processo e se pensasse que o governador de Zulia e fundador do partido, Manuel Rosales, seria o candidato, eles se mantiveram em silêncio por um tempo, avaliando as pesquisas de opinião e o desempenho dos outros candidatos. Eles têm muita clareza de que não vencerão nas primárias, portanto, estão apostando, nesse sentido, no crescimento do partido com uma candidatura externa sem entrar em conflito direto com o chavismo. Em outras palavras, é uma aposta para fazer o partido crescer além de sua própria região e dar às suas estruturas em todo o país alguma força para respirar novamente, sem riscos.
Nessa campanha eleitoral, o UNT poderia absorver as estruturas do PJ em outros estados que estão com poucos recursos e empobrecidos pela situação atual nacional. Essa aliança é mais produtiva para o UNT do que para o PJ, considerando que, nas eleições regionais, o UNT teria mais possibilidades de disputar novos governadores do que aqueles que o PJ poderia disputar após as primárias, começando novamente pelo próprio estado de Zulia: o maior líder do PJ em Zulia, até com projeção nacional, era Juan Pablo Guanipa, que se torna o maior sacrifício do PJ para obter o apoio do UNT a Capriles. Lembremos que a UNT e o PJ participam das eleições regionais com o Conselho Nacional Eleitoral chavista.
Se for esse o caso, o UNT poderia ser o partido político que substituiria a liderança da enfraquecida AD como o partido social-democrata da Venezuela e, com isso, estaria apostando na absorção de um público chavista que poderia se moderar diante da agenda de diálogo-sem-conflito dos socialistas. Dessa forma, eles poderiam estar se preparando para uma transição na qual poderiam ser uma ponte para os chavistas que querem negociar com uma nova liderança da oposição eleita nas primárias de outubro. Isso não lhes daria um valor agregado na oposição como um todo?
Esse cenário é possível se lembrarmos que Luis Florido, outro admirador de Lula da Silva, declarou em julho passado que os candidatos inelegíveis deveriam se retirar das primárias. Isso foi contradito pela posição do partido se aliando ao PJ para apoiar Capriles, que é inelegível. Em outras palavras, o UNT sabe que Maria Corina tem a melhor chance de vencer as primárias e poderiam mudar sua posição em relação aos inelegíveis no processo. Será que eles aplicarão a mesma estratégia de diálogo-sem-conflito com Maria Corina Machado apenas para se manterem presentes no jogo do poder nacional?
A aposta do UNT no momento é coexistir com as forças políticas de um lado e de outro, o que poderemos ver pelas consequências de suas ações mais na frente. Isso é útil para a Venezuela? Cabe a você, caro leitor, fazer seu próprio julgamento.