Juan Guaidó, desde os EUA, falou que está buscando proteção para as eleições primárias na Venezuela: proteção física para os candidatos e outras coisas que garantam o processo. Ele diz isso depois de ser expulso da Colômbia pelo governo de Petro, que ele acusa de estar do lado da ditadura chavista, mas que ao mesmo tempo pede que ele o inclua em seu processo de diálogo. Enquanto isso, a atual situação política do partido de Guaidó, Voluntad Popular (VP), poderia reorganizar a composição dos principais partidos da oposição oficial, o que abre cenários para a eleição de um candidato unitário nas próximas primárias de outubro.
No momento, o partido está dividido entre apoiar a Plataforma Unitária (PU) com Capriles como seu principal candidato ou apoiar a candidatura de María Corina Machado (MCM). As discussões das Equipes Regionais de Ativistas têm sido os espaços onde essas posições têm sido contrastadas dentro da organização, apesar de os coordenadores regionais terem se reunido em Caracas para avaliar o desempenho da candidatura do ex presidente provisório.
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Guaidó, em Miami, enfatizando que ainda é candidato, não esclareceu se Freddy Superlano será o novo candidato ou se apoiará a candidatura de MCM. De qualquer forma, foi dado a Superlano algum tempo para pensar sobre o assunto. Se ele aceitar, isso poderá servir para manter o partido coeso diante das deserções que a tolda laranja sofreu graças ao fracasso do governo interino, das consequências do clientelismo desencadeado pela AirTM, e da agenda política que eles propõem. O Superlano é a opção que poderia angariar algum capital político para que eles logo apoiem qualquer uma das candidaturas mencionadas acima.
O cenário do VP apoiando a candidatura de Maria Corina Machado é mais complicado. Machado foi a deputada nacional mais votada na eleição de 2010. Em 2014, junto com o VP, ela realizou várias iniciativas políticas que pressionaram a ditadura chavista. Parecia que para a eleição de 2015 ela seria reeleita, mas foi o VP que tirou seu espaço com a candidatura de Freddy Guevara, que agora está propondo a candidatura de Superlano. Vale a pena observar que a maior parte do apoio à candidatura de Machado está na base do VP, não na liderança do partido.
Por outro lado, a liderança do VP tem mais afinidade programática com o projeto de Capriles, admirador do governo Lula, do que com um projeto econômico liberal. Os líderes que se aproximaram dessa posição acabaram isolados do centro decisório do partido ou simplesmente se excluíram por conta própria, por não concordarem com a agenda política que seguiram até agora.
A popularidade da candidatura de María Corina se deve justamente ao fato de que ela se propõe a varrer o projeto socialista. Ceder a isso seria um passo atrás, e é por isso que ela e a coalizão que a acompanha estão aproveitando a oportunidade para oferecer ao país a única alternativa que propõe a reconstrução do país sob um paradigma totalmente diferente daquele que vem sendo promovido há décadas na Venezuela. Ela consegue demonstrar a viabilidade e popularidade do projeto na sociedade.
A questão é: os liberais do VP apoiarão Capriles e o partido se dividirá diante dessa situação? Carlos Vecchio disse em uma reunião que tivemos em Brasília com o Governo Federal e representantes dos países do Grupo de Lima (2019), que eles eram liberais. Naquela ocasião, eu lhe disse: “seria bom que vocês dissessem isso publicamente. Isso seria bem recebido pelos venezuelanos e esclareceria muitas dúvidas dos aliados internacionais”.