O povo da Venezuela não tem um partido político para eleger seus líderes. Como disse a professora Corina Yoris: “você pode votar, mas não pode eleger”. A mobilização gerada por Maria Corina Machado em toda a Venezuela foi sem precedentes e teve como consequência o nascimento de uma oposição diferente da privilegiada que não representa os interesses da população. Agora, esse setor político que luta pela defesa de seus interesses dentro do sistema criado pelo chavismo tomou medidas que trago à análise para reflexão.
Eles não quiseram ser contados nas primárias, dando as costas a um processo de legitimidade popular no qual sabiam que não venceriam. Essa foi uma atitude democrática? Não se deve respeitar o fato de que, se o povo não gosta de você por uma grande maioria, você deve sair do caminho?
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Por outro lado, após a vitória retumbante de Maria Corina, esses setores começaram a reconhecer sua liderança. Os mesmos setores políticos que pediram a abstenção nas primárias e não colocaram candidatos. Os mesmos setores políticos que atacaram ativamente o processo. Começaram a participar de eventos com a vencedora, fizeram com que ela acreditasse mais uma vez, como nos anos anteriores, que eles tinham uma palavra a dizer e que isso era um documento. Esses mesmos setores que traíram Maria Corina repetidas vezes, por que não o fariam mais uma vez?
Até o momento em que Corina Yoris foi anunciada como representante de Maria Corina, esses setores apareceram com ela ao seu lado. Eles apareceram em coletivas de imprensa, disseram que “a constituição tinha que ser respeitada”, e tudo isso não importou, porque no final das contas, na Venezuela em que eles acreditam, não importa mentir. Ser mentiroso é válido, ético e lucrativo.
Eles têm um candidato que, segundo eles, representa a oposição, mas será que ele representa a oposição que Maduro quer ou representa o povo venezuelano? Eles disseram que Maduro queria um candidato que fosse potável, mas potável para o ditador ou para as pessoas?
Não há como voltar atrás nessa linha vermelha. Esses setores oligárquicos viraram as costas para o povo venezuelano.
No momento em que escrevo estas palavras, Maria Corina Machado ainda não emitiu uma declaração sobre o que a falsa oposição fez com ela. De qualquer forma, o que ela disser acabará definindo o curso de sua luta política: ela pedirá abstenção ou apoiará um dos candidatos registrados?
De qualquer forma, a Venezuela precisa de um partido político com o qual possa escolher seus líderes. Registrá-lo superando os obstáculos impostos pelo regime, com o máximo de tempo e ousadia possível. O que aconteceu no CNE chavista deve ser analisado com cuidado, pois foram deixados vários buracos que, apesar do resultado de 25 de março, deixam em aberto oportunidades que abrem diferentes cenários para a nova etapa que está começando hoje.
Ao mesmo tempo, o que aconteceu deixa uma reflexão para a diáspora: ela pode desempenhar um papel mais ativo na luta? Podemos criar força suficiente para influenciar efetivamente a mudança em nosso país a partir do nível local para fortalecer a organização popular que já existe?
O chavismo só está no poder pela força. A falsa oposição só existe por causa deles. O povo da Venezuela deu as costas a ambos. Há uma nova oposição popular que precisa de um partido político, precisa de recursos e precisa de uma agenda eficiente para assumir o poder.