Já tratamos do significado da política em artigos anteriores, mas, nesta oportunidade, vale a pena destacar seu caráter civilizatório: é por meio da política que se preserva a diversidade da sociedade como um todo. A antipolítica, por outro lado, desintegra essa diversidade para homogeneizar o todo social por meio da violência. Entretanto, a violência não é exclusivamente física: ela também pode ser psicológica e monetária. Essas formas de violência são essenciais para a criminalização da política na sociedade.
A criminalização da política pode ser vista como a resposta da esquerda revolucionária às ações não violentas inspiradas pela teoria de Gene Sharp que teve impacto no início do século XXI. Entre outras coisas, essa teoria propõe o enfraquecimento das fontes de poder autoritário para enfraquecê-lo. Essas fontes de poder são o que permite que o regime tenha os meios e a capacidade de exercer a opressão. Se olharmos por outro lado, o que acontece com a criminalização da política é exatamente isso: destruir as fontes de poder político para inviabilizar qualquer expressão de oposição democrática que dispute o poder com os autoritários.
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Nesse sentido, falando da Venezuela e do Brasil, criminalizar tem a ver com atribuir um caráter criminoso a atividades relacionadas à política. Para isso, eles levam as questões políticas ou legislativas para o nível do judiciário, onde os revolucionários têm controle total e podem legalizar tudo o que quiserem – afinal, não é legal que o tribunal superior tenha a última palavra?
Nesse caso, eles podem definir o que é democracia, o que é antidemocrático, justo, fascista, radical, terrorismo, liberdade de expressão, conspiração, golpe de Estado, financiamento do terrorismo, desestabilização, discurso de ódio, exclusão, discriminação, família e tudo o mais que precisarem redefinir para cumprir seu objetivo totalitário.
Isso torna uma realidade mais evidente: ser muito popular não significa ter poder. O poder implica agenciar a mudança por vontade própria. Os agentes populares de mudança não conseguem fazer mudanças que limitem o poder dos autoritários, enquanto estes continuam avançando na limitação das capacidades dos agentes mais populares de mudança nas sociedades brasileira e venezuelana.
Por que dizem no Brasil e na Venezuela que tanto Bolsonaro quanto Maria Corina são golpistas, fascistas e antidemocráticos? Não há nenhuma evidência de qualquer tipo contra os dois que possa ser comparada aos atos golpistas do chavismo em 1992 ou aos atos terroristas realizados pelo petismo antes de chegar ao poder. O que existe são campanhas de calúnia e difamação contra eles a fim de desacreditá-los aos olhos da opinião pública.
O chavismo e o petismo querem destruir as fontes de poder de ambos os líderes para evitar que o povo lhes dê o poder de governar o Brasil e a Venezuela, respectivamente. Eles os criminalizam para eliminá-los do cenário político e os processam construindo histórias improváveis. Perseguem os líderes ao seu redor, os censuram, prendem seus influenciadores, destroem economicamente aqueles que querem apoiá-los, corrompem os partidos que concorrem com eles e semeiam o terror entre seus seguidores.
A esquerda entendeu muito bem que tomar o poder é algo que vai além de vencer uma eleição. Vale a pena que a direita entenda isso e possa se recondicionar para enfrentar o desafio dos autoritários, derrotá-los e desmantelar o totalitarismo em que vivem nossos países.