Depois que a CNN publicou os vídeos dos ataques de 8 de janeiro em Brasília, veio à tona algumas dúvidas que questionam o institucionalismo com que o governo agiu naquele dia, o discurso de Lula sobre os fatos e o papel da mídia frente a isso.
Lula já havia dito que os atos de 8 de janeiro haviam sido uma tentativa de golpe de Estado bolsonarista e que, portanto, era necessário despolitizar as Forças Armadas. De acordo com suas declarações, naquele momento nenhum dos sistemas de inteligência havia funcionado para evitar os ataques.
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Por sua vez, a mídia pró-governamental questiona a veracidade dos vídeos, afirmando que esta é uma montagem que tem sua origem no bolsonarismo, e até tentaram construir uma narrativa para cancelar o autor da reportagem, o jornalista Leandro Magalhães, a fim de desacreditar não apenas seu trabalho jornalístico, mas também a verdade sobre os fatos expostos. Em todo caso, o peso dos acontecimentos levou à primeira renúncia de um ministro do atual governo brasileiro.
Na quinta-feira, 20 de abril, Lindbergh Farias, deputado federal do PT, indicou que Lula não tinha conhecimento dos vídeos porque quando os pediu, foi informado de que as imagens não existiam porque o sistema não estava funcionando no momento dos ataques. Neste sentido, o deputado exige uma investigação sobre esta quebra de confiança e se pergunta sobre os verdadeiros interesses do General, “Quem ele estava tentando proteger?” sugerindo que ele tinha colaborado deliberadamente com os ataques ao Palácio. Tudo isso contradiz as declarações de Lula em 23 de janeiro, nas quais ele assegurou que tinha os vídeos em sua posse e que sabia quem tinha ou não sido negligente em seus deveres.
Se esse país fosse sério e não essa podridão que se escancara cada dia mais o poste jamais estaria mijando no cachorro.
O sistema sobrevive graças as teias da imprensa batendo bola em todos os lugares! pic.twitter.com/Bu5JVG8E4O
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 22, 2023
O agora ex-chefe do GSI, General Marcos Gonçalves Dias, compareceu perante a Polícia Federal na sexta-feira, 21 de abril, por ordem do STF. Em seu depoimento, ele disse que havia entregado os vídeos a todas as instituições do Estado. Como o GSI é responsável pela segurança no Palácio, deputados federais da oposição, como Carlos Jordy, concluem que, se assim fosse, o Presidente Lula da Silva teria escondido as imagens.
URGENTE: em depoimento à PF, G Dias culpou Dino e o Ministro da Defesa pelo 8 de janeiro e afirmou ter entregue as imagens das câmeras da Presidência a todas as instituições de Estado, negando qualquer omissão. Lula havia escondido as imagens até agora! Ele sabia de tudo!
— Carlos Jordy (@carlosjordy) April 22, 2023
Dada esta confusão e contradições, os petistas afirmam que os oficiais militares que estavam sob o comando do General na época eram do governo anterior, então eles inferem que houve algum tipo de conspiração a este respeito com o bolsonarismo. Vale lembrar que quando Lula anuncia a nomeação de vários de seus ministros, Gonçalves Dias é mencionado primeiro para o GSI, destacando que ele já tinha sido seu chefe de segurança por oito anos.
Enquanto isso, no parlamento, deputados da oposição e senadores estão pressionando para a instalação de uma CPMI. A bancada da oposição já propôs que os deputados Eduardo Bolsonaro, Alexandre Ramagem e André Fernandes formassem a CPMI. Ramagem foi chefe da ABIN. Resta confirmar quem serão os senadores, observando que a oposição já obteve o apoio de 194 deputados e 37 senadores.
Antes dos vídeos da CNN, o governo era contra a instalação da comissão, no entanto, esta posição mudou. O governo nomeou o jornalista Ricardo Capelli como o novo chefe da GSI. Na próxima semana, o presidente do Senado deverá anunciar a data para a instalação da CPMI, que determinará se o que aconteceu foi um teatro ou uma série de erros humanos.