
Espanhol- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conseguiu desestabilizar consideravelmente o projeto BRICS, um bloco que originalmente era concebido como um contrapeso à influência ocidental. Durante sua transição e seu mandato, Trump neutralizou a iniciativa que visava criar uma economia paralela ao dólar, com o objetivo de instaurar um mundo multipolar. Vale lembrar que ele foi enfático em impor tarifas de 100% aos países membros do bloco que participassem ativamente na materialização dessa estratégia.
Recentemente, o primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, visitou a Casa Branca para relançar a relação bilateral, focando em aspectos comerciais, energéticos e de defesa. Como parte desse estreitamento, os dois países estão trabalhando em um acordo comercial que os beneficiará mutuamente, o que também fortalecerá o uso do dólar. Durante sua presidência, Trump cultivou uma relação estratégica com a Índia, um membro-chave do BRICS.
Trump também criticou a África do Sul por aquilo que descreve como “a confiscação de terras sem compensação” e a perseguição a fazendeiros brancos, temas que ressoaram em certos setores da opinião pública americana, mas que geraram tensões diplomáticas com a África do Sul. Esse discurso expôs as diferenças ideológicas dentro do bloco e enfraqueceu sua coesão, justamente quando a solidariedade entre seus membros deveria ser uma prioridade.
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A guerra comercial com a China foi um dos aspectos mais marcantes da administração Trump. Por meio de sua política tarifária, Trump busca enfraquecer a economia chinesa e criar obstáculos ao funcionamento do bloco. Além disso, ele propôs a criação do G3, um grupo formado por Rússia, Estados Unidos e China, com o objetivo de abordar questões como o orçamento global de defesa e promover uma convivência que reduza as tensões que poderiam desencadear um conflito bélico de grande escala. No entanto, a China tem a oportunidade de aumentar sua influência, assumindo um papel mais ativo no vácuo deixado pela USAID no financiamento de ONGs, começando pela Ásia. No Senado dos Estados Unidos, aguarda-se a aprovação de Elbridge Colby para o cargo de subsecretário de Defesa. Ele já afirmou que os Estados Unidos devem concentrar seus esforços na região do Pacífico para conter a crescente influência da China.
Quanto à Rússia, Trump afirmou que conseguirá a paz na Ucrânia, uma postura que parece ser respaldada por seu homólogo em Moscou, Vladimir Putin, que está disposto a avançar nesta questão. Dado que a resolução do conflito é a principal prioridade da Rússia, as possibilidades de se chegar a um acordo aumentam à medida que a Rússia diminui o apoio às políticas promovidas pelo BRICS, em troca de concessões, como a exclusão da Ucrânia da OTAN e a eliminação dos incentivos econômicos que perpetuam a guerra.
Por sua parte, o Brasil, sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, parece ter poucas opções para avançar em sua proposta de criar uma moeda alternativa ao dólar. Diante das ameaças de tarifas, Lula indicou que, caso sejam impostas, aplicaria tarifas também aos Estados Unidos, o que também afetaria o gigante norte-americano, dada a robusta relação comercial entre os dois países. Recentemente, o senador Steve Daines visitou o Brasil em uma viagem não oficial e se reuniu com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Após o encontro, o vice-presidente disse que Trump lhe enviou um abraço, talvez com a intenção de que isso fosse visto como um gesto hipotético e amigável de Trump para suavizar as tensões em uma relação bilateral que já conta com 200 anos de história.
Em resumo, as ações de Trump geraram uma série de desafios internos para o BRICS, desde questões de política comercial até diplomacia internacional. Embora o BRICS tenha sido concebido como uma plataforma para fortalecer a cooperação entre economias emergentes, a administração Trump expôs e explorou os interesses particulares dentro do bloco, colocando em dúvida seu futuro como uma coalizão sólida e unificada, capaz de enfraquecer a influência global dos Estados Unidos.